António Lobo Antunes uma vez afirmou numa entrevista que tinha péssima memória: «Lembro-me de tudo». Concordo, pois recordar tudo pode ser um fardo. Mas quem não parece ter memória fraca é Pinto da Costa. Este não se lembrou que a semana era de Sporting – FC Porto e lançou-se em uma série de entrevistas, sempre a dar críticas.
Não se dirigiu a Frederico Varandas, Hugo Viana, Rúben Amorim, nem ao Sporting. Preferiu focar-se no seu próprio clube, o FC Porto. Em vez de elogiar o novo rumo do FC Porto ou de ser mais elegante com André Villas-Boas e reconhecer o que o presidente tem feito nos últimos quatro meses, Pinto da Costa optou por atacar. Deve ser complicado sair de um lugar onde se está há 42 anos, especialmente quando com o tempo se parece uma lapa agarrada a um rochedo. Todos temos ego e, apesar de os budistas afirmarem que sem ego não há problema, é compreensível que seja um período difícil para ele. O mais fácil é atacar tudo e todos, ou quase tudo e quase todos.
Não deveria ter vendido agora Evanilson; com Sérgio Conceição, o FC Porto ainda teria uma chance de voltar a ser campeão da Europa, mas agora essa possibilidade parece remota. A palavra “traidor” pode ser muito forte, talvez “deselegante” seja mais apropriado. Para já, escaparam de críticas Jorge Costa e Andoni Zubizarreta. Nunca tentou comprar um árbitro? Não. Fez as pazes com Filipe Vieira e até com Bruno de Carvalho. Se continuar assim, um dia poderá até mostrar o cartão de sócio do Benfica ou afirmar que o futebol feminino não tem importância.
A qualquer momento, o Sporting poderá mudar o nome para Gyökeres Clube de Portugal. A marca do sueco neste Sporting é comparável, nos últimos 50 anos, apenas à marca de Hector Yazalde no Sporting de 1974 e à de Jardel no Sporting de 2002. Diz-se que Gyökeres faz sempre a mesma jogada e os adversários já deveriam saber como pará-lo. Robben, por exemplo, fazia sempre a mesma finta, dirigia-se sempre para o mesmo lado, rematava com o mesmo pé e da mesma zona e sempre com a mesma potência. E ainda assim, como diria Galileu, a bola movia-se e entrava.
Claro que deve haver uma forma de parar Gyökeres. O método que Otávio encontrou certamente não é o ideal. A verdade é que, quanto mais joga, mais o sueco parece quase imparável. Talvez Pinto da Costa, numa das suas futuras temporadas de entrevistas, revele a forma ideal de travar Gyökeres. Só ele saberá como.