O Benfica nada tem a ver com o processo reivindicativo das polícias, nem com o adiamento do jogo entre o Famalicão e o Sporting, mas a verdade é que assumiu a liderança da Liga com todo o prazer e lá ficará se for competente e enquanto não houver data para acerto de calendário.
O executivo da Liga de Clubes, num comunicado apressado e excessivo, informou que o jogo “foi adiado, por acordo dos clubes, para data ainda a definir”, depois de ter recebido informações por parte do responsável pela força policial presente no Estádio Municipal de Famalicão de que não existiam condições de segurança para a realização do jogo no sábado, nem no dia seguinte (domingo).
Passando ao lado de algumas considerações no referido comunicado, depressa se conclui que de duas uma, ou o comandante policial extravasou as suas competências, dado que, anteontem, se realizaram cinco jogos dentro do quadro de normalidade exigido, ou, no meio daquele emaranhado de contactos via telemóvel terá havido uma falha que conduziu ao destempero comunicacional de quem, como principal responsável, no caso a direção da Liga, estaria obrigado a recolher informação fidedigna junto de fontes seguras em vez de patrocinar uma decisão com base em palavras de circunstância, ditas em momento de tensão, e que o jornalista Nuno Raposo contou ontem em A BOLA, assim: “Nova pergunta do delegado da Liga: e amanhã haverá essas condições [presença de policiamento]? Também não, foi a resposta. Resultado: jogo adiado”.
“Era o que Amorim queria ouvir – não o adiamento do jogo mas uma resposta final que lhe permitisse redefinir a vida do plantel”, acrescentou o jornalista. O assunto foi tratado com esta ligeireza. O responsável policial deu a sua opinião e o delegado, pelo que se depreende, deu o caso por encerrado, não se sabendo com quem falou na Liga, nem que instruções terá recebido.
Alguém se precipitou, como ficou demonstrado no domingo, e todos sacudiram água do capote a começar pela própria Liga de Clubes, com um comunicado áspero e que mereceu resposta do presidente do Sindicato de Oficiais de Polícia, Bruno Pereira. Por outro lado, aquilo que se passou em Famalicão, e todos pudemos testemunhar, foi mais uma exibição estúpida da marginalidade circundante ao futebol, através das claques, que a Liga conhece e os clubes também, mas todos se esforçam por ignorar, exceção feita ao exemplo corajoso de Frederico Varandas.
Para os dirigentes a culpa é sempre da polícia, até quando ela não está, tamanha é a hipocrisia. “Fala-se, negoceia-se, legisla-se e por vezes até se age judicialmente, embora de mansinho e quase sem fazer doer (…) É pena a polícia fazer falta naquilo que devia ser uma festa. Naquilo que Portugal gostava de exportar para o Mundo em modo de direitos televisivos”, escreveu Alexandre Pereira, director-adjunto de A BOLA, em Editorial.
No mesmo fim de semana em que a Liga Portugal exige ao Governo “a instauração de um processo de inquérito com caráter de urgência, de forma a apurar responsabilidades pelo sucedido” e pretende ser ressarcida “pelos danos provocados por ações irresponsáveis às quais é totalmente alheia”, em Espanha, a Polícia Nacional foi homenageada pelo seu 200.º aniversário e a La Liga decidiu oferecer-lhe o pontapé de saída no dérbi entre Real Madrid e Atlético Madrid, realizado no Santiago Bernabéu. Não conseguimos aprender, nem com os nossos vizinhos.
Apesar de nada ter que ver com o que se passou em Famalicão, convém repetir, o Benfica foi promovido a líder provisório e sente-se confortável, como é natural, embora sabendo que o tema vai suscitar abundante discussão e ruidoso falatório. Aliás, já começou.
No domingo, venceu o Gil Vicente com razoável desempenho e Roger Schmidt surpreendeu ao colocar no banco João Mário e Kokçu, o primeiro a dar sinais de saturação competitiva e o segundo longe de justificar quer o preço que custou, quer a peso do número da camisola que enverga. No entanto, para ele passear o estatuto que lhe atribuíram tem sido Florentino o sacrificado, com nítido prejuízo para o coletivo, na medida em que João Neves dá mais à equipa com Florentino do que dá com Kokçu.
O jornalista Luís Mateus há muito que identificou os sinais dessa diferença e, pelos vistos, a sua insistência não caiu em saco roto. Finalmente, o treinador alemão reconheceu que Florentino Luís é muito importante porque deixa tudo em campo, além de ser evoluído do ponto de vista tático. “Jogadores como ele são uma dádiva”, destacou.
Quando um jovem praticante está desprotegido, alguns analistas têm a tendência para lhe enxergarem defeitos e árbitros mais autoritários para o massacrarem com cartões.