Acreditem: algo tremendamente misterioso aconteceu no Sporting nos últimos dois meses e meio. O quê, sinceramente, é impossível de explicar. Os leões terminaram 2023 com 15 jogos na Liga: 32 golos marcados. Agora, nestes 77 dias de 2024, disputaram 10 jogos na Liga: 43 golos marcados (5 + 3 + 5 + 8 + 5 + 2 + 3 + 3 + 3 + 6). Elevaram a média de 2,33 golos por jogo para incríveis 4,3 golos por jogo. O Sporting tem agora mais 15 golos (!) que o Benfica e mais 25 (!!) que o FC Porto. E com menos um jogo. Acreditem: é um mistério que só Rúben Amorim poderá desvendar. Mas que algo aconteceu, aconteceu…

Deixemos o mistério de lado e passemos à realidade. Teoricamente, este era um dos jogos mais fáceis do ano para o Sporting e o mais difícil para o Boavista, pois perdeu em Alvalade nos últimos 15 jogos: sim, 15! É muitos jogos. No entanto, contrariando as teses passadas, o xadrez de Ricardo Paiva entrou muito bem e, aproveitando um deslize de Israel, Makouta fez um grande golo. Passaram apenas três minutos, e o Sporting teria mais 87 (no mínimo) para procurar a vitória, sim senhor, mas não deixou de ser um susto. Seguido por outro: um grande golo de Trincão foi anulado no minuto 7 por estar fora de jogo por 26 centímetros.

A partir daqui, surgiu o leão insaciável. O leão faminto. O leão devorador. O leão canibal. O Boavista ainda tentou alguma posse de bola interessante, tentando surgir em zona de remate, mas tudo estava estagnado em redor de Israel. No entanto, de repente, Matheus Reis abriu para Paulinho, este colocou a bola em Morita, o japonês desmarcou Paulinho, este cruzou e apareceu Gyokeres (quem mais?, como perguntaria George Clooney) para empatar em cima do intervalo, quando até poderia ter acontecido bem mais cedo. O Sporting poderia, então, respirar fundo e ir para o intervalo com a noção de que o pior estava ultrapassado. O grande golo de Makouta estava no passado, o golo anulado a Trincão estava no passado, restava o futuro. E o futuro era simples: golos, golos, golos. Na senda, no fundo, dos últimos dois meses e meio. Claro que bastava marcar um golo e não sofrer mais nenhum para o leão continuar na liderança isolada e com menos um jogo…

O dilúvio de cinco golos

A segunda parte – os boavisteiros que desculpem a expressão mais rude – foi um dilúvio. Começou com Paulinho (54’), seguiu com Gyokeres (68’), continuou com o sueco (79’), passou por Nuno Santos (88’) e, por fim, regressou a Paulinho (90+6’). E acabou. Acabou em seis e poderia ter terminado em sete ou oito. O futebol do Sporting, se foi dominante na primeira metade, foi avassalador na segunda. Houve uma avalanche de golos, de belas jogadas, de alguma magia e de muita gestão a partir do momento em que se colocaram em vantagem e, embora comece a tornar-se repetitivo, houve Viktor Einar Gyökeres. O sueco com o trema no nome, que continua jogo após jogo a fazer tremer os defesas adversários. O Sporting não foi só ele, como não tem sido só ele. Mas esta goleada tem a impressão digital de Gyökeres.

Meta: 100 golos?

Um jogo de 6-1 no marcador é quase sempre fácil de explicar. Óbvio: a equipa que ganha joga sempre muito mais do que a que perde. E surge, então, a pergunta: foi o Sporting que jogou muito e o Boavista que jogou pouco? Nem por isso. Foi o Sporting que jogou muito, muito, muito e o Boavista que nem sequer jogou muito mal. Simplesmente foi abafado (nova expressão rude, sim senhor), pelo leão insaciável que já leva 75 golos em 25 jogos da Liga. Média (uf!) de três por jogo. Improvável que consiga manter a cadência, claro, porque se a mantiver ultrapassará a centena de golos no campeonato. A verdade, como diz Rúben Amorim, é que o Sporting tem só um ponto de vantagem sobre o segundo (Benfica). Um jogo a menos, sim, mas nada garante que saia de Famalicão com mais três pontos. O melhor mesmo, pensará o treinador, é ser sensato. E esperar que ninguém desvende o mistério.