Um grupo de atletas de várias modalidades dirigiu-se, ontem, à Secretaria de Estado do Desporto para reivindicar o pagamento da premiação por terem conquistado medalhas nas competições internacionais. O Estado deve 14 milhões de Meticais e há sete anos que não efectua pagamentos.
Estão à espera há sete anos. Estão há sete anos à procura de uma resposta que nunca chegou. Conquistaram medalhas nas competições internacionais vestindo as cores nacionais, quer medalhas de ouro, quer de prata ou bronze. E, como manda o regulamento, eles têm direito a receber prémio do Estado, algo que nunca aconteceu. Cansados de esperar, os atletas dirigiram-se à Secretaria de Estado do Desporto para reivindicarem os seus direitos.
“Desde 2017, há um grupo que até hoje ainda não recebeu os seus prémios e, de lá para cá, foi-se acumulando. Nunca houve premiação desportiva. Há um certo desgaste por parte dos atletas”, disse Délcio Soares, atleta de voleibol.
O atleta afirma que, durante esses anos, foram tentando aproximar-se à Secretaria de Estado do Desporto, de modo a inteirar-se da situação.
“Há dois anos que temos vindo a fazer isso. A SED orientou-nos a fazer uma carta para o Fundo de Promoção Desportiva, mas até agora ainda não obtivemos uma resposta plausível”, explica Soares, corroborado por Aldevino Nuvunga.
“Com muita educação, viemos à Secretaria de Estado do Desporto ter com os nossos dirigentes para ver se nos ouvem. Esse é o nosso grito de socorro que temos vindo a lançar há anos, desta feita, de uma maneira formal”, anota Nuvunga.
A resposta às suas preocupações, diz Aldevino Nuvunga, já ultrapassa as fronteiras do desporto.
“Isso começa a afectar a nossa vida. Despendemos muito tempo para estas conquistas. Como devem imaginar, um atleta não sai de casa para uma competição simplesmente. Ele treina, dedica-se a até abdica de muitas coisas que deveria fazer, provavelmente que trouxessem sucesso noutras vertentes”, lamenta.
Délcio Soares defende que os prémios que estão a reclamar não foram os atletas que decidiram, mas o Estado é que aprovou o regulamento em 2023. Questiona, o voleibolista moçambicano, por que razão não se faz o pagamento dos mesmos.
“Nós também somos heróis neste país. Herói não é somente quem pega em arma é, sim, quem defende o seu país, quer na cultura, quer no desporto ou na literatura. Tudo faz parte. Sentimo-nos de certo modo marginalizados, tendo em conta que não há quem nos defenda. Estamos cansados de ‘palmadinhas’ nas costas”, questiona Délcio Soares.
“É MUITO TRISTE”
Alcinda Panguana é uma das atletas que garantiu a qualificação para os Jogos Olímpicos, Paris 2024. Já, também, conquistou muitas medalhas para o país de luvas em punho.
“Nós trabalhámos para uma determinada causa e, se ela não chega ao fim, torna-se muito complicado para mim”, diz Panguana, para depois questionar: “Como é que nós vamos ter vontade de trabalhar para defender a bandeira. Se tu trazes algo para o país, que dignifique, e, de facto, trabalhaste durante quatro anos para garantir a qualificação para os Jogos Olímpicos e, no fim, isso não é valorizado… Não quero gastar o meu esforço em vão”, desabafa a pugilista moçambicana.
ENCONTRO (IM)PRODUTIVO
Diante da situação por que têm passado, os atletas mantiveram um encontro com o director nacional do Desporto para Alto-Rendimento, Francisco da Conceição, que durou aproximadamente uma hora. À saída da “cimeira”, o dirigente garantiu que o mesmo foi saudável.
“Seríamos hipócritas e cínicos se nós disséssemos que não é legítimo que há um direito que lhes assiste que não está a ser cumprido por várias razões nesta altura”, referiu o dirigente, ajuntando, mesmo sem avançar datas, que o Estado está a trabalhar para a liquidação da dívida.
“Estamos tranquilos. Em momento oportuno, poderemos dar a resposta que for encontrada para poder minorar o impacto negativo desta situação actual”, precisou Francisco da Conceição.
Apesar do encontro, os atletas dizem que continuam com muitas dúvidas.