Roger Schmidt teve coragem e ganhou apesar do risco. O Estoril ainda conseguiu assustar na Luz. Uma segunda parte competente.
A missão era manifestamente perigosa. Depois do desastre no Dragão, a margem de manobra de Roger Schmidt era nula. O treinador alemão enfrentou a situação com coragem e fez uma mudança arriscada na equipa, deixando de fora jogadores como Rafa, Di Maria, Arthur Cabral ou João Neves. Mudou a defesa, escolhendo Tomás Araújo para central, em vez do anunciado Morato; mudou no meio-campo, colocando Kokçu numa posição mais avançada; mudou na frente de ataque, dando a ala esquerda a Neres, a direita ao jovem Tiago Gouveia e o centro da área a Marcos Leonardo.
Correndo o risco de perder tudo no grande casino do Estoril, Schmidt entendeu que esta seria, precisamente, a noite em que valia a pena apostar tudo. E ganhou.
A SORTE NA ROLETA
Não se pense, porém, que o jogo esteve sempre controlado. Nada disso. O Benfica não escondeu nervosismo e ansiedade na entrada. E, na verdade, as coisas podiam não ter corrido bem, sobretudo, se não tivesse tido sorte na roleta. Ao quarto de hora, quando a equipa ainda se esforçava por esquecer o ambiente pesado do estádio, que não parecia disposto a perdoar erros e falhas, Kokçu fez um golo entusiasmante, num pontapé de grande classe. Mais do que significar a vantagem no resultado, esse golo tornava-se essencial para que a equipa ganhasse a confiança que, notoriamente, lhe faltava e que a obrigava a um futebol feito de hesitações e de receios.
O problema é que essa sensação de estado de graça, que o próprio público admitiu com esse golo, logo desabou com o golo gelado do Estoril, cerca de sete minutos depois. Foi, portanto, muito breve o tempo de serenidade, e a inquietação, dentro e fora do campo, foi crescendo, à medida que o Estoril se instalou num futebol atrevido, envolvente, autoritário.
Num golpe de vento, mais do que golpe de sorte, tudo voltou a virar no último lance da primeira parte. Obra-prima de um cruzamento de Neres, oferta generosa do menino Tiago Gouveia e sucesso festivo de Marcos Leonardo.
UMA BELA SEGUNDA PARTE
Seria bem possível que o povo benfiquista olhasse para a segunda parte do jogo com um misto de preocupação e de dúvida. Esta sua equipa não lhe dava nenhuma razão para confiar e seria, mesmo, capaz de se fazer regressar a um tempo de penoso sofrimento.
Nada disso aconteceu. O Benfica apareceu de cara lavada e alma rejuvenescida. Marcou o terceiro golo, logo no início, ganhou convicção, subiu mais no terreno, não consentindo aquela leviandade de oferecer todo o espaço e tempo para o adversário se organizar e jogar sem pressão. Passou a recuperar a bola em zonas avançadas do campo, colocou intensidade e velocidade nos lances e passou a jogar com a maturidade competitiva que lhe tinha faltado durante toda a primeira parte.
Por vezes, o público insistia na sua ânsia de ver a sua equipa cavalgar para uma vitória retumbante, mas essa mesma equipa parecia saber exatamente o que queria e não se deixava influenciar. Controlava o jogo com paciência, não perdia tão facilmente a bola, evitando más surpresas do adversário, e esperava pelos momentos certos para tentar chegar ao golo. Não se pode dizer que a exibição fosse deslumbrante, mas, ao menos, era competente.
E tudo correu, de facto, bem, pelo menos até ao remoinho provocado pelas substituições avulsas. O Benfica voltava às vitórias, Schmidt ganhava créditos e os estreantes conquistaram espaço.