John Stiles diz que escreveu aos 92 clubes profissionais de Inglaterra e a todos da Superliga feminina. Varane também já alertou para o problema
John Stiles ficou satisfeito por ver Raphaël Varane alertar o mundo para os problemas que os cabeceamentos e as constantes pancadas na cabeça podem trazer aos jogadores de futebol. Stiles viu o pai, Nobby Stiles, morrer em 2020, vítima da encefalopatia traumática crónica – e que lhe causou demência -, em virtude dos muitos cabeceamentos que fez ao longo da sua carreira de futebolista. O filho do antigo internacional inglês, que defrontou Portugal no Mundial de 1966, luta agora para que os futebolistas conheçam os perigos das concussões cerebrais no futebol, conforme contou numa entrevista ao jornal catalão ‘Sport’.
“Os futebolistas normalmente começam a ter sintomas entre os 50 e os 60 anos. O meu pai teve um período em que sentia uma ansiedade terrível. E muitos jogadores têm estes sintomas, de ansiedade e paranóia. É horrível ver como a doença se apodera de alguém que amas, ver essa pessoa desaparecer à tua frente. Mas é ainda mais horrível ver que os ex-jogadores não recebem ajuda suficiente. E as famílias veem-se obrigadas a vender as suas casas para pagar os custos dos tratamentos”, contou John Stiles, que também foi jogador de futebol.
Varane admitiu que as concussões começaram a ter consequências no seu rendimento desportivo e Stiles considera que o francês “tem razões para estar preocupado”. “A doença que está a matar futebolistas chama-se ETC, encefalopatia traumática crónica. De cada vez que sofres um impacto na cabeça, uma proteína solta-se do cérebro. Se não tiveres outro impacto, não há problema, mas os futebolistas fazem dezenas de cabeceamentos. Essa proteína assenta no cérebro e destrói-o”, afiança Stiles, citando estudos médicos.
John reconhece que se nos seus tempos de futebolista soubesse da doença “não teria feito tantos cabeceamentos nos treinos”. Por isso quer que todos conheçam os perigos. “Fiquei feliz quando o Varane falou do assunto porque escrevi aos 92 clubes profissionais de Inglaterra e a todos da Superliga feminina. Disse-lhes que o professor William Stewart – profissional de medicina em Harvard – e eu íamos falar com os jogadores sobre os perigos dos cabeceamentos e todos nos recusaram. Não nos deixaram falar com os jogadores. Estou convencido que não sabem e não querem que os jogadores saibam.”