Exibição pálida, muitos erros e equipa sem alma; Martínez trocou quase tudo e… tudo foi diferente para pior; ordem para voltar à fórmula original
GELSENKIRCHEN – O futebol, sobretudo em Portugal, como povo empreendedor que é, será sempre um dos terrenos mais férteis para a criação de algumas frases feitas que, em grande parte das vezes, são tão óbvias quanto vazias. Como aquela que nos fala de jogos com «duas partes distintas», que em «equipa que ganha não se mexe» ou daquela equipa que não «marca e acaba por sofrer», entre muitas outras.
Olhando para este jogo, mais do que tentar encontrar uma dessas expressões do futebolês para o que aconteceu, destaca-se uma constatação: Portugal não tem, para já, um plano B neste Europeu. Roberto Martínez, num jogo que serviu mais para avaliar soluções e dar ritmo competitivo a peças menos utilizadas nos dois primeiros jogos, aproveitou para testar uma nova versão do onze. Em relação à Turquia, jogo que voltou a encher a alma lusitana, trocou quase tudo. Mudou 8 (!) jogadores, recuperou o 3x4x3 como sistema, fez adaptações (como Pedro Neto num dos corredores em vez de um ala com rotinas defensivas como Cancelo ou Nuno Mendes), procurou juntar João Félix a Ronaldo como referências ofensivas.
Sem rotas e dinâmicas
A fórmula não resultou devido à qualidade dos jogadores, mas pelas dinâmicas e parcerias, sobretudo na primeira parte, que efetivamente estiveram longe daquilo que por certo Roberto Martínez queria. Prova disso mesmo foi o golo, ainda a frio, logo aos dois minutos, de Kvaratskhelia, a estrela georgiana do Nápoles, que aproveitou mau passe de António Silva para marcar.
Uma desvantagem que aumentou (ainda mais) a desconfiança do plano idealizado. E que confirmou vários pontos: a falta de rotina de António Silva e Danilo, num trio defensivo muito hesitante, com vários erros coletivos, Palhinha e João Neves, apesar do jogo positivo do primeiro, sentiram a falta de alguém que pudesse transportar jogo (sem Bruno Fernandes tudo muda), Pedro Neto não é (e dificilmente alguma vez será…) Nuno Mendes, pelo rigor tático e defensivo do segundo e Francisco Conceição, batizado como novo espalha-brasas, tem mais dificuldades contra equipas muito físicas e consegue tirar maior partido dessa sua velocidade e imprevisibilidade quando o adversário sente desgaste. Como aconteceu na etapa final período em que apareceu com maior vivacidade e acutilância.
Tantos erros gritantes
O teste não resultou e os golos georgianos são a melhor prova disso. Pela forma como surgiram. O primeiro, num passe mal medido de António Silva, o segundo, num erro coletivo que originou a grande penalidade de Dalot. Pelo meio, obviamente, houve mais Portugal, com Cristiano Ronaldo a estar perto de se estrear a marcar neste Europeu (17’), após livre, Francisco Conceição também (28’), a conseguir furar pela direita e a atirar um remate às malhas laterais, mas, além disso, apenas remates de longa distância de Palhinha (43’), João Félix (45+1’) e Diogo Dalot (54’).
Portugal raramente conseguiu entrar no consistente bloco defensivo da Geórgia, formado por cinco jogadores (por vezes seis…) mas que, contas feitas, à exceção do último suspiro em que Portugal arriscou tudo e Francisco Conceição (90+3’) e Dalot (90+5’) quase marcaram, a Geórgia criou tantas ocasiões para marcar do que Portugal.
Faltaram ideias, maior velocidade de processos, dinâmicas mais trabalhadas e a certeza de que este plano B precisa de muito mais tempo (algo que Portugal não terá mais…) para se aproximar do principal. Uma nota final. Este jogo, afinal, serviu para algo: não voltar a repetir este plano B…