Compreendo o silêncio de Benfica e Sporting perante a morte de Pinto da Costa. Ensaiei várias reações possíveis, mas todas tinham o mesmo problema: as palavras erradas podem ser prejudiciais. Seria estranho limitar uma reação a duas linhas de circunstância quando há tanto por dizer, especialmente se formos sinceros. Uma instituição deve representar os seus membros, e seria inadequado que se alinhasse numa postura contrária ao sentimento geral.

É difícil encontrar algo estruturalmente positivo a dizer sobre Pinto da Costa, alguém que, com uma certa elegância e ironia, fez do ódio aos rivais uma arte amplamente apreciada. Ele criou uma cultura que foi copiada por outros, incluindo alguns dirigentes do meu clube. No entanto, essa cultura, mais do que uma identidade clubística, transformou-se em um padrão a seguir. Tornou-se o modelo para muitos, com práticas que muitos consideravam necessárias para vencer.

Desde a minha infância, o futebol competitivo em Portugal tem estado marcado por operações nos bastidores, decisões controversas, nomeações inexplicáveis, e personagens duvidosas. O que assistimos foi a criação de um ambiente onde a moralidade e a legalidade perdem importância, e a esperteza e a manha são vistas como virtudes. Tudo isso, com o apoio de uma sociedade do espetáculo, alimenta a ideia de que só os maus ganham.

O legado deixado por Pinto da Costa foi a perda de confiança no futebol nacional. O que vemos hoje não é apenas desporto; é um jogo onde a verdade desportiva é constantemente questionada, e onde poucos acreditam no que vêem. O futebol português foi forjado por práticas que mancharam a sua reputação, abafando a pureza do jogo.

Pinto da Costa demonstrou que era possível alcançar os seus objetivos, independentemente dos meios usados. A manipulação da verdade e a construção de um legado através da pós-verdade marcaram profundamente o desporto nacional. O seu impacto foi tão profundo que a cultura que ele criou continua a ser parte do futebol português, com uma geração inteira que aceita comportamentos questionáveis como parte do jogo.

As últimas décadas mostraram-nos que, apesar das críticas e dos alertas, Pinto da Costa conseguiu transformar o seu percurso, construindo uma narrativa onde os fins justificam os meios. A ideia de que tudo o que ele fez foi correto permanece para muitos, mas também deixou um legado sombrio que mancha as vitórias conquistadas.

Hoje, muitos ainda se sentem gratos pelos sucessos conquistados pelo FC Porto durante o seu reinado, incluindo duas Taças dos Campeões Europeus e duas Taças UEFA. Mas é impossível ignorar o custo moral desses sucessos, especialmente quando as práticas antidesportivas estiveram sempre presentes. O respeito institucional que muitos agora pedem não se viu refletido nas atitudes de Pinto da Costa ao longo dos anos.

O futebol português, como um todo, foi transformado e distorcido pela sua liderança. E, embora tenha sido um grande sucesso para os adeptos do FC Porto, Pinto da Costa tornou-se, sem dúvida, a pior coisa que aconteceu ao futebol em Portugal.

Paz à sua alma, mas o seu legado permanece conturbado e inegavelmente negativo para o desporto nacional.

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