Os sinais não têm sido nada animadores na Luz e a época nem sequer terminou
O Estádio da Luz despediu-se de Rafa, que recusou favores de penáltis, celebrou mais os golos dos outros do que os seus e não derramou uma lágrima durante a demorada substituição, abraçado por cada um dos seus colegas. Foi, para ele, apenas mais um dia de trabalho. Um dia como qualquer outro, até quando foi receber o prémio de homem do jogo. Não proferiu uma única palavra. Infelizmente.
Para o futebolista e para o Benfica, abre-se um novo ciclo. Não há, todos o sabemos, jogadores perfeitos e muito menos insubstituíveis, mas, desde já alerto, o seu peso tem de ser distribuído entre os que permanecem e os que chegam. Eu explico. Se o rápido avançado era essencial num modelo com transições rápidas defesa-ataque e esse modelo persistir, é necessário ter jogadores (não necessariamente tão rápidos, mas ainda assim) com capacidade de decisão e definição em todos os metros quadrados do campo. Embora o futebol não seja atletismo, ainda são necessários jogadores velozes com melhor capacidade de tomada de decisão.
Ao olhar para aquilo que quase todos consideraram o melhor plantel e, como tal, destinado a ser campeão, volto a afirmar que não será bem assim. Se o modelo de jogo requer uma linha defensiva alta para comprimir o espaço de jogo ao adversário, os centrais são lentos para cobrir o vazio nas suas costas. Se a ideia é construir a partir de trás e se Trubin acrescentou alguma proatividade nesse aspeto, ainda assim, demonstrando uma irregularidade que não se explica apenas pela idade, os restantes elementos da defesa continuam a ter problemas em quebrar a pressão com o passe ou transporte da bola. Será necessário resolver a profundidade não abordada nos últimos dois mercados de transferências, especialmente na lateral esquerda.
Em certos momentos, sentiu-se a incapacidade de roubar a posse de bola aos adversários – algo em que Leandro Barreiro poderá ajudar, especialmente se Florentino se mantiver, já que João Neves será o alvo mais apetecível para eventuais transferências na Luz – e uma linha ofensiva demasiado permeável, sem capacidade de pressão. Além disso, dos três avançados, embora o potencial de Marcos Leonardo seja inegável, persistem dúvidas sobre Arthur Cabral e Tengstedt, especialmente pelo que custaram.
Com tanto para fazer num plantel tão milionário quanto inadequado, é ainda mais estranho o que se passa no departamento de prospeção, uma sangria que inevitavelmente terá custos para o clube. Não será altura para uma profissionalização definitiva de toda a estrutura do futebol, em vez de se continuar a tentar resolver o problema apenas com homens de confiança? O mercado terá de ser abordado cirurgicamente e parece haver cada vez menos condições para tal ser possível.