Amorim é a sombra de Schmidt

Rui Costa falou e reduziu o espaço para o treinador alemão continuar a apresentar desculpas, tendo à sua disposição um plantel de muita qualidade e nada barato.

Numa jornada de alto risco, o Benfica mostrou que não estava preparado para a inesperada ascensão à liderança proporcionada pelo protesto dos polícias, enquanto o Sporting expressou toda a sua revolta pela inusitada queda para o segundo lugar e quem pagou a fatura foi o SC Braga, o melhor cliente de Alvalade no mandato de Rúben Amorim, com três derrotas em três jogos e um total de 15 golos sofridos.

Há um ano, em Guimarães, registou-se um empate a zero no Vitória-Benfica, com uma atuação pálida da águia explicada pelo desconhecimento do treinador alemão sobre a realidade portuguesa. Anteontem, numa noite de chuva torrencial, nada que o pudesse surpreender, outro empate devido a uma exibição intermitente, em que a maior novidade revelou o espírito inventivo de Schmidt. Esta é uma característica que define os treinadores portugueses, que precisam de transformar as fraquezas em pontos fortes, e com excelentes resultados, sublinhe-se.

Quem não dispõe de grandes orçamentos é obrigado a ser mais competente se quiser impor-se contra os mais ricos, e o futebol português pode gabar-se de notáveis exemplos de sucesso no panorama europeu.

Roger Schmidt resolveu inventar porque quis, mas não precisava, porque o simpático Álvaro Pacheco, que trouxe uma brisa fresca à conversa futebolística desde os tempos de Vizela, menos tático e mais divertido, deixou claro o que tinha em mente e avisou o treinador benfiquista para se preocupar com a “sociedade dos Silvas”, na mesma linha de pensamento, aliás, de José Mourinho quando, ainda no Leiria, afirmava que os jogos contra os grandes clubes eram os mais fáceis de preparar porque todos os pequenos queriam destacar-se.

No caso em questão, e sem entender o que passava pela cabeça de Schmidt, a verdade é que, sem se aperceber, foi ele quem desempenhou o papel de treinador de uma equipa pequena com uma jogada desastrosa que correu mal e que não só deu confiança aos jogadores do Vitória como encantou os seus adeptos, ao verem uma águia atordoada até ao intervalo.

Depois de ter dito que não era uma vergonha perder com o Estoril, na sequência da eliminação nas meias-finais da Taça da Liga, no domingo teve outra observação amistosa ao afirmar que um ponto é melhor do que nada, em contraste com Álvaro Pacheco, que considerou ter perdido dois pontos.

Na época 2022/2023, por esta altura, com 21 jornadas disputadas, o Benfica liderava confortavelmente (56 pontos), mais quinze do que o Sporting, que ocupava o quarto lugar (41). Agora, ambos estão no topo (ambos com 52 pontos), embora os leões tenham um jogo em falta contra o Famalicão.

A situação mudou, com uma melhoria significativa no desempenho do Sporting (mais 11/14 pontos) e uma ligeira descida do Benfica (menos quatro), o que explica que Rúben Amorim, depois de ter derrotado o SC Braga novamente, afirme ser irrelevante quem merece ser campeão na 20ª jornada, porque “o importante é chegar ao fim como campeão”. Por outro lado, é menos compreensível que Roger Schmidt insista em adiar os problemas, dizendo que ainda há muitos jogos pela frente, referindo-se aos problemas porque, há um ano, o Benfica não tinha exatamente um plantel, como se sabe, mas agora tem e recentemente voltou ao mercado para corrigir o que não correu bem no verão passado.

Rui Costa, em entrevista ao canal do clube, afirmou, entre outras coisas, que foi reforçado o investimento em mais talento. Ora, depois do que disse o presidente, creio que ficou muito limitado o espaço para o treinador alemão continuar a apresentar desculpas inaceitáveis, tendo à sua disposição um plantel de muita qualidade e, com certeza, nada barato.

Roger Schmidt é inteligente e não chegou ao futebol recentemente. É também exigente e teimoso. Em Guimarães, insistiu no formato com Kokçu e isso foi um erro. No entanto, depois da entrevista de Rui Costa, o seu maior problema passou a ser o treinador do clube rival, e será com Rúben Amorim que terá de entender-se daqui em diante. Porque ambos vão enfrentar-se em duas mãos na Taça de Portugal e porque ambos perseguem o mesmo objetivo, que é o título de campeão nacional.

Amorim é a sombra que vai perseguindo Schmidt.

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