Na sua tomada de posse como presidente da FPF, Pedro Proença dirigiu palavras contundentes ao Governo, abordando diversas desigualdades que espera ver resolvidas, incluindo questões relacionadas com o IVA, o choque fiscal e a necessidade de um PRR para as infraestruturas.

“Quem pensa que liderar esta federação é apenas ser um líder desportivo ou se engana ou não sabe do que fala. Esta modalidade e esta instituição vão muito além do que isso. A Seleção é possivelmente o maior símbolo de unidade nacional entre os portugueses que residem aqui e os milhões que foram dispersos pelo mundo. Se assim é, devemos reconhecer e potenciar isso, utilizando-o para o bem de Portugal e dos portugueses. Por isso, é importante que, com um sentido de responsabilidade, informemos quem governa o país sobre quem somos e quais são as nossas intenções. Não me perdoaria se falasse mais para dentro do que para fora. A frontalidade tem custos, mas não fui escolhido apenas para unir o futebol. Fui escolhido para defender o vosso nome: Portugal. Portugal tem orgulho nas suas seleções, e estas têm orgulho em representar o país. Chegou a hora de transformar sentimentos em ações concretas. Senhores governantes, tenho uma boa notícia: nas nossas seleções, a promoção de Portugal terá visibilidade sem custos. Vamos preparar este espaço com a dignidade que o país merece, sendo provavelmente a primeira federação do mundo a afirmar que promover o seu país não depende de quanto nos pagam, mas sim de quão honrados nos sentimos por representá-lo. O mesmo se aplica aos municípios onde jogamos, especialmente à Câmara Municipal de Oeiras, onde temos orgulho em nos sediar. Ser de Portugal é um orgulho, e estar em Portugal é um privilégio. O caminho para a organização do Mundial 2030 exige que estejamos à altura. Cada um deve reconhecer a importância do seu papel e o que Portugal e os portugueses ganham com esta oportunidade”, enfatizou Proença.
“Se sou capaz de identificar o que temos de melhorar em nós próprios, permitam-me fazer o mesmo com outras instituições e decisores. A FPF não é um partido político. Todos os partidos com representação parlamentar merecem o nosso respeito e serão interlocutores dos nossos anseios. O mesmo se aplica ao Executivo liderado pelo Primeiro-Ministro. Já afirmei durante a apresentação do nosso programa que não seremos um escudo para governos nem uma arma para governantes. Algumas propostas aguardam há anos por uma resposta. A nova fase na FPF traz consigo uma energia renovada, um inconformismo com o que ainda não foi realizado.
Proença fez um apelo à união: “A nova geração de dirigentes tem a capacidade de escrever um capítulo novo”. Ele sucedeu a Fernando Gomes e pediu aos dirigentes para que juntos possam criar novas oportunidades, abordando também a centralização dos direitos audiovisuais.
“Exemplifico com três casos que apresentaremos a todos os agentes políticos em detalhe e que não abandonaremos até que se encontre uma solução. Ir a um espetáculo de uma influenciadora do YouTube, um festival de verão ou um concerto implica um IVA de apenas 13%. Desde o início do ano, assistir a uma tourada paga ainda menos, 6%. No entanto, ver um jogo do Lourosa, do Belenenses, dos Leões de Porto Salvo, do Vitória ou de qualquer outro clube, ou da seleção de qualquer modalidade, tem um IVA de 23%. Basta. Basta disto. Chegou o momento de acabar com esta discriminação negativa. É preciso reconhecer que é uma discriminação sem justificação evidente. Se, há poucos meses, os políticos foram capazes de acabar com um corte injusto que afetava os seus próprios salários, acredito que compreenderão que é hora de resolver este assunto que se arrasta há anos. Sem receio das palavras: o IVA dos espetáculos desportivos deve ser equiparado ao de qualquer outro espetáculo em Portugal. Não pedimos menos do que os outros, apenas que termine esta injustiça”.
“Em segundo lugar, é essencial que o futebol português mantenha uma competitividade externa forte. Para tal, precisamos de um choque fiscal significativo. Precisamos construir isso em conjunto com o Estado, focando numa questão essencial: como reter o talento que formamos em Portugal? O apelo à ‘manutenção e atração dos nossos jovens’ aplica-se a tudo, exceto ao futebol? Acreditamos que não. Sabemos, por conversas sérias com vários governos, que não é escondendo este problema que ele desaparecerá. Portanto, senhor ministro da tutela, senhores responsáveis, senhor ministro da Economia, senhor ministro das Finanças, senhor Primeiro-Ministro: a tributação sobre atletas de alto potencial abaixo dos 23 anos precisa de uma resposta urgente. Não podem ser utilizados apenas para promover Portugal e receber homenagens. Essas são palavras valiosas, mas apenas palavras. Esta Federação prefere ações”.
“Em terceiro lugar, precisamos de um PRR nacional para as infraestruturas desportivas. Um verdadeiro plano nacional que trace um panorama do que nos falta. Temos nas infraestruturas, ou na sua falta, o nosso maior fator crítico de crescimento. Todos sabemos que os treinos das raparigas de 13, 14 e 15 anos são agendados para as 20h, 21h ou 22h porque os campos estão ocupados por rapazes. Não quero este país. Nós não queremos isso. Não me orgulho nem me conformo com esta situação. Se desejamos promover a igualdade de género, investimento no desporto feminino e oportunidades iguais, não podemos continuar a seguir uma abordagem que prioriza apenas o topo da pirâmide. Se não tivermos um PRR robusto para as infraestruturas desportivas, o país continuará a crescer em número de praticantes de forma anémica, muito aquém do seu potencial, enquanto os recursos são desviados para projetos individuais.”